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O Magistério Gaúcho - algumas curiosidades.

A Educação Pública, assim como o Magistério estadual, tornam-se assunto sempre,e tão-somente,em época eleitoral. No período subsequente à eleição pouco, ou nada, se discute a respeito desta categoria que mereceria uma melhor atenção de toda a sociedade e, em especial, do governo estadual. Todas as notícias que surgem envolvendo Educação, em qualquer âmbito,tem como referências questões como "O que educar?", "Políticas de Inclusão", "Inserção de novos conteúdos", entre outros assuntos de menor relevância. Mas,nunca se lêem notícias que digam respeito "ao valor que nos cabe neste latifúndio"(Obrigado, João Cabral de Mello Neto), ao salário da categoria e sua composição. Sei que muitos que nos veem de fora, que não vivem o nosso cotidiano, devem pensar "são bem pagos","tem três meses de férias", entre outras bobagens, afinal, "Eles SÓ DÃO AULA!".
Primeiramente é necessário esclarecer, professor que "dá aula", não é digno de dizer que é professor. Professor LECIONA DISCIPLINA.
Agora alguns esclarecimentos sobre o salário. Sempre que alguém entra no magistério estadual fica, em média, SEIS MESES SEM RECEBER SALÁRIO. Isso mesmo, SEIS MESES SEM SALÁRIO.Justificativa: o processo é longo e demorado. É mesmo? É longo? É demorado? Então pergunto: que outra categoria de funcionário público fica tanto tempo sem receber e trabalhando? E o que mais irrita é quando alguém responde "Ah, mas sempre foi assim!". Depois destes SEIS MESES, o professor sobrevivente recebe os SEIS MESES ACUMULADOS, só que também recebe UMA BELA MORDIDA DO LEÃO DO IR.

Quando fazemos cursos de pós-graduação, entramos com um processo interno,afim de ter uma aumento de salário, um acréscimo por termos nos especializado. Pois bem, para realizar este pedido temos 2 períodos específicos em cada ano e se perdermos um deles,ou os dois, temos que esperar até o ano seguinte. O valor recebido gira em torno de SESSENTA REAIS e NÃO É RETROATIVO! Ou seja, se eu me pós-graduei em dezembro e entrei com o processo, por exemplo, em março, passa a contar a partir de meses depois e NÃO RETROAGE á data da formatura. Ah, cursos, sejam quais forem, devem ser feitos NOS PERÍODOS DE FOLGA, nunca no horário de aula.

Se somos formados em determinada área, acabamos lecionando disciplinas correlatas, p.ex.: História, Geo, religião... Matemática, Física... Para aqueles que falam "Ué,diz que não,oras!", eu respondo, "Sim, se eu disser não,vou acabar indo para uma segunda ou terceira escola. Dai fico pipocando de escola em escola." Fácil de escolher,né?

Só irá se saber o atual quadro de caos do magistério quando algum governo tomar a seguinte decisão: cada professor só leciona a disciplina para a qual é formado. Dai sim, veremos em quais disciplinas estão faltando professores. E, este tipo de levantamento, é de uma simplicidade de fazer que me assusta o fato de NINGUÉM NUNCA TER PROPOSTO FAZE-LO.

Quando alguém comenta que o salário que ganhamos é suficiente, e já ouvi isso várias vezes, eu digo "Olha, fiquei 8 anos dentro da Universidade para sair de lá Licenciado e Bacharel em História e,logo depois, foram mais 2 anos de um curso de Especialização. Isso sem contar, nos livros publicados, palestras e outras atividades profissionais. Então, acho que ganho pouco e sou pouco, ou nada, reconhecido."

Outro aspecto interessante, não podemos adoecer, não podemos ficar acamados. Pois, se ficarmos, depois somos perguntados "Quando vamos recuperar as aulas?" É...recuperar as aulas? E a minha saúde fica onde? No beleléu?

As pessoas costumam tecer comentários sobre o dia-a-dia do magistério SEM NUNCA TEREM ESTADO numa escola qualquer.

Peço às pessoas, os políticos do momento, que agora detém algum poder de relevância que pensem no magistério e pensem nas questões expostas neste texto. E, quando tiverem algum lampejo sobre coisas que irão interferir na vida pessoal da categoria convidem, os representantes do magistério para a discussão. É muito pedir isso?

Abraços fraternos a todos e todas,

Comentários

  1. Professor, gostei do que o senhor escreveu aqui, as suas ideias estão bem claras e a defesa dessa categoria de trabalhadores é coerente com a sua atividade, mas em alguns pontos eu penso diferente.
    O senhor entende que " 8 anos de universidade, licenciado, bacharel, 2 anos de especialização etc." são razões suficientes para se merecer um salário. Aí discordamos, o salário é a compensação ou contrapartida do serviço que o profissional executa e da produção atingida.
    Uma melhoria salarial antecipada para trabalhadores que não podem ser demitidos, como ocorre no magistério, e que muitas vezes não dão o retorno produtivo, cria o descontrole da folha de pagamento.
    Raríssimas classes de trabalhadores têm o privilégio de receber aumento de salário pela apresentação de um diploma de conclusão de curso.
    Prezado Mestre, com a sua permissão pretendo fazer mais algum comentário deste texto, em outro momento.

    Um abraço
    Chico Lenk

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  2. Chico Lenk (chicolenk@yahoo.com.br)

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