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Resposta a David Coimbra

A Educação deve ser usada para transformar as pessoas. Posso fazer uma aula numa praça, num café...não necessariamente em uma sala. Mas, antes de tudo, a Educação – entenda-se a relação “professor/aluno” – deve transformar ambos. Senão, torna-se uma via de mão única. Quando há a apresentação de ideias em uma aula, quando se faz um debate que engrandece, ambos crescem, professor e aluno. Pauto o contato com meus alunos com a intenção explicada acima. Transformar significa fazer com que a pessoa leve aquele debate para sua vida. E, isso meu caro David Coimbra, é cidadania, tu queiras ou não.

Paulo Freire, em seu clássico “Pedagogia da Autonomia”, criticava o que ele chamava de “educação bancária”, aquela na qual o aluno apenas “abre a mente” e recebe o conteúdo do professor, Afinal, “aluno”, significa “sem luz”. Portanto, nós professores, estaríamos iluminando aqueles rapazes e meninas com a “luz do saber”.

Não, David. Não. O conhecimento, que tu citaste em tua coluna “o shortinho das colegiais,”, só é completo se houver esta troca entre professor e aluno. 

Se este artigo foi publicado em ZH, tu deves pensar “este ai, só pode ser esquerda.”  Sim, David, sou de esquerda, pois acredita numa sociedade humana em que as pessoas valham pelo que são e não pelo que elas tenham. Daí, entramos no que tu mais detestas: valores. Afinal, para que valores se não forem os monetários, os financeiros? Valores éticos, valores morais? Para que mesmo?

Relembrar as disciplinas de “Moral e Cívica” e “OSPB”, para desconstruir o discurso das meninas foi de uma crueldade que poucas vezes vi. Caro David, os valores ensinados naquela época eram outros. Basta que se busque algum livro destas disciplinas para entender o que estou comentando. David, talvez tu não saibas, mas uma das grandes modificações da Educação foi a Interdisciplinariedade. O que é? É a mesma coisa fazem aí nos EUA, David: quando o aluno participa de projetos fora da escola e ganha “pontos” por isso. Não sei o nome que tem aí, mas aqui chamamos de cidadania. Entendeu, David?

David, meu caro, uma pergunta: qual o teu sentimento com as manifestações de junho de 2013? Pois é meu caro, estas meninas reproduziram em pequena escala aquele movimento. Lá, era bacana, cool, aula de cidadania... Agora, tá errado? Se vale pra um, vale para todos.

Leciono na rede pública estadual desde 2002, sei da responsabilidade que tenho na relação com meus alunos. Sei que assim como ensino, aprendo. Afinal, David, por mais que não aceites, a educação é uma via de mão dupla.

E foi o que as alunas do Anchieta fizeram: deram uma aula de cidadania, mostrando que devemos lutar pelo que acreditamos. Se é verdade que só interessa à comunidade daquela tradicional escola a discussão, por outro lado, temos um debate que envolve inúmeros conceitos: sexualidade, feminismo, machismo, leis. Só para citar alguns. É muito fácil, simplório até, o discurso da desconstrução da atitude daquelas meninas. David, talvez tu nunca tenhas experimentado o grau de desprendimento que um aluno/aluna de ensino médio tem que ter para sair à rua e reivindicar.

Cidadania, meu caro David. Cidadania.

Até a próxima,

Ulisses B. dos Santos

@prof_colorado.

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