"Não basta contribuir para a democracia (...) é preciso ir adiante, é imperativo contribuir para a construção da liberdade, em face da qual a plena democracia é apenas um grau restrito e de qualidade fundamentalmente inferior." J. Chasin
Alguém já disse: o bom da democracia é o debate, é cada um expor sua opinião e, a partir do debate concluir-se ou não alguma coisa. Se ninguém disse, pelo menos está escrito.
Nos anos 90, uma emissora de tv fez uma campanha "Desligue a televisão e vá ler um livro." O que parecia "um toque", algo democrático, hoje percebo extremamente autoritário. E se eu quisesse ver a tv? Estaria errado?
Alguém já disse, acho que foi Leandro Karnal, que vivemos no maior período democrático da História do Brasil. E, cá entre nós, falta-nos o hábito democrático e este hábito democrático significa conviver com o diferente, aceitar o outro como ele efetivamente é.
De tempos em tempos, temos testada a noção - individual e coletiva - de democracia.
Nos anos 80, quando surge o rock brasileiro as bandas aparecem com nomes como Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs (do Iê-iê), Kid Abelha e os Abóboras Selvagens....nominhos que se não diziam nada diretamente, era -e são - engraçadinhos.
Lá pelas tantas, aparece alguém pra estragar a festa. Na capital baiana, surge outra banda de rock. Nome? Camisa de Vênus.
Lembre-se que estamos nos primeiros anos de uma ainda juvenil democracia brasileira.
Mas, Camisa de Vênus? Precisava? Precisava? No primeiro disco, a banda conta sua história na canção "Passamos por isso" que em determinado momento relata "quiseram mudar nosso nome, deixar tudo arrumadinho, nos deram até a liberdade de tocar 'brasileirinho'".
E, como se já não bastasse o nome, nos shows da banda a platéia gritava "Bota pra fudê!"
Estragando a festa do rockinho nacional... Liberdade? Até ali,né?
Dizem que existem 7 mil cópias deste disco com o Selo da "Som Livre" - uma cópia tá comigo.
Neste mesmo período, surge um filme francês chamado "Je vous salue marie", do diretor Jean Luc-Godard, que mostra Maria como sendo uma menina comum, colocando as personagens religiosas como pessoas comuns. Pronto....tava feita a merda. Cinemas fechados, movimentos religiosos saíram às ruas pixando salas de cinema... colocando o governo Sarney numa sinuca de bico.
Imaginem se fosse relançado o filme de Godard nos dias de hoje?
Liberdade? Até ali, né?
Em 1986, Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, pegou bem o teor do ocorrido, no disco "Selvagem?": "E a liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard."
Temos que aceitar que as pessoas são diferentes entre si sob os mais íntimos aspectos: desde a cor dos olhos, da pele, até valores morais, éticos, postura social, entre outros.
Dá pra notar que as posições das pessoas, seus valores aparecem nas pequenas coisas, nos acontecimentos triviais. Por outro lado, é importante frisar que "opinião é uma coisa, preconceito é outra." Eu não posso expor, como opinião, o preconceito.
Poderiam ser citados outros tantos momentos de tensão em que as liberdades foram questionadas.
Estamos em meio a um verão com temperaturas sempre próximas de 35 graus, o que faz com que sair à rua torna-se um exercício de sobrevivência. E como temos o reinício do ano letivo em algumas escolas particulares vemos surgir um movimento feminino que exige igualdade de tratamento em relação aos meninos. "Se eles tem direito de usar bermuda ou short, por que nós não?", bradam as meninas através da hashtag #VaiTerShortinhoSim.
Sua mobilização, através também de um abaixo-assinado virtual já estava perto das 10 mil assinaturas.
Algumas das opiniões a respeito clamam pela obediência e aceitação das regras, das leis. Se aceitássemos sempre as regras talvez ainda estivéssemos vivendo sob o voto censitário, a mulher não votaria, entre outras coisas. Um dia, as regras diziam isso.
Viram porque as regras devem ser questionadas?
É da democracia, amigos. Aceitemos ou não. Queiramos ou não.
Fico pensando onde estavam as pessoas que hoje exigem o respeito às regras, no mês de junho de 2013 e durante o tal do #NãoVaiTerCopa....
As manifestações destas estudantes acontecem da mesma forma que aquelas de 2013.
Lá podia, agora não?
Fico imaginando o diálogo entre uma destas meninas e seus pais:
"O que é democracia, pai?"
"É lutar pelo que se acredita.", resume o pai orgulhoso.
"Que nem fizeram em 2013?"
"Sim, minha filha. Tu tens que lutar pelo que tu acreditas."
Encontram-se em casa, depois do advento do "shortinho" e o tom muda:
"Viu que legal, pai?"
"O que era aquilo? tu tá louca? Regras existem para serem respeitadas."
"Tu não me disse que eu devia lutar pelo que eu acreditasse?"
Fim de papo.
As perguntas que ficam são:
a mulher não tem liberdade de vestir-se com bem deseja?
O homem tem direito de achar que aquela mulher está "se oferecendo" pela forma como está vestida?
Se houver restrição à qualquer tipo de manifestação poderemos ir por um perigoso caminho sem volta.
Até a próxima,
Ulisses B. dos Santos
@prof_colorado
Alguém já disse: o bom da democracia é o debate, é cada um expor sua opinião e, a partir do debate concluir-se ou não alguma coisa. Se ninguém disse, pelo menos está escrito.
Nos anos 90, uma emissora de tv fez uma campanha "Desligue a televisão e vá ler um livro." O que parecia "um toque", algo democrático, hoje percebo extremamente autoritário. E se eu quisesse ver a tv? Estaria errado?
Alguém já disse, acho que foi Leandro Karnal, que vivemos no maior período democrático da História do Brasil. E, cá entre nós, falta-nos o hábito democrático e este hábito democrático significa conviver com o diferente, aceitar o outro como ele efetivamente é.
De tempos em tempos, temos testada a noção - individual e coletiva - de democracia.
Nos anos 80, quando surge o rock brasileiro as bandas aparecem com nomes como Ultraje a Rigor, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs (do Iê-iê), Kid Abelha e os Abóboras Selvagens....nominhos que se não diziam nada diretamente, era -e são - engraçadinhos.
Lá pelas tantas, aparece alguém pra estragar a festa. Na capital baiana, surge outra banda de rock. Nome? Camisa de Vênus.
Lembre-se que estamos nos primeiros anos de uma ainda juvenil democracia brasileira.
Mas, Camisa de Vênus? Precisava? Precisava? No primeiro disco, a banda conta sua história na canção "Passamos por isso" que em determinado momento relata "quiseram mudar nosso nome, deixar tudo arrumadinho, nos deram até a liberdade de tocar 'brasileirinho'".
E, como se já não bastasse o nome, nos shows da banda a platéia gritava "Bota pra fudê!"
Estragando a festa do rockinho nacional... Liberdade? Até ali,né?
Dizem que existem 7 mil cópias deste disco com o Selo da "Som Livre" - uma cópia tá comigo.
Neste mesmo período, surge um filme francês chamado "Je vous salue marie", do diretor Jean Luc-Godard, que mostra Maria como sendo uma menina comum, colocando as personagens religiosas como pessoas comuns. Pronto....tava feita a merda. Cinemas fechados, movimentos religiosos saíram às ruas pixando salas de cinema... colocando o governo Sarney numa sinuca de bico.
Imaginem se fosse relançado o filme de Godard nos dias de hoje?
Liberdade? Até ali, né?
Em 1986, Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, pegou bem o teor do ocorrido, no disco "Selvagem?": "E a liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard."
Temos que aceitar que as pessoas são diferentes entre si sob os mais íntimos aspectos: desde a cor dos olhos, da pele, até valores morais, éticos, postura social, entre outros.
Dá pra notar que as posições das pessoas, seus valores aparecem nas pequenas coisas, nos acontecimentos triviais. Por outro lado, é importante frisar que "opinião é uma coisa, preconceito é outra." Eu não posso expor, como opinião, o preconceito.
Poderiam ser citados outros tantos momentos de tensão em que as liberdades foram questionadas.
Estamos em meio a um verão com temperaturas sempre próximas de 35 graus, o que faz com que sair à rua torna-se um exercício de sobrevivência. E como temos o reinício do ano letivo em algumas escolas particulares vemos surgir um movimento feminino que exige igualdade de tratamento em relação aos meninos. "Se eles tem direito de usar bermuda ou short, por que nós não?", bradam as meninas através da hashtag #VaiTerShortinhoSim.
Sua mobilização, através também de um abaixo-assinado virtual já estava perto das 10 mil assinaturas.
Algumas das opiniões a respeito clamam pela obediência e aceitação das regras, das leis. Se aceitássemos sempre as regras talvez ainda estivéssemos vivendo sob o voto censitário, a mulher não votaria, entre outras coisas. Um dia, as regras diziam isso.
Viram porque as regras devem ser questionadas?
É da democracia, amigos. Aceitemos ou não. Queiramos ou não.
Fico pensando onde estavam as pessoas que hoje exigem o respeito às regras, no mês de junho de 2013 e durante o tal do #NãoVaiTerCopa....
As manifestações destas estudantes acontecem da mesma forma que aquelas de 2013.
Lá podia, agora não?
Fico imaginando o diálogo entre uma destas meninas e seus pais:
"O que é democracia, pai?"
"É lutar pelo que se acredita.", resume o pai orgulhoso.
"Que nem fizeram em 2013?"
"Sim, minha filha. Tu tens que lutar pelo que tu acreditas."
Encontram-se em casa, depois do advento do "shortinho" e o tom muda:
"Viu que legal, pai?"
"O que era aquilo? tu tá louca? Regras existem para serem respeitadas."
"Tu não me disse que eu devia lutar pelo que eu acreditasse?"
Fim de papo.
As perguntas que ficam são:
a mulher não tem liberdade de vestir-se com bem deseja?
O homem tem direito de achar que aquela mulher está "se oferecendo" pela forma como está vestida?
Se houver restrição à qualquer tipo de manifestação poderemos ir por um perigoso caminho sem volta.
Até a próxima,
Ulisses B. dos Santos
@prof_colorado
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