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A Falsa Pluralidade


Um dos princípios básicos da liberdade de imprensa diz respeito a concessão de espaço às diversas formas de pensamento. Apregoa-se, aos quatro ventos, a defesa intransigente das liberdades democráticas, das liberdades de expressão, da condição de todos e todas terem a possibilidade de expor suas ideias. Instiga-se que, com advento irreversível das redes sociais, todos tem acesso às variadas fontes de leitura. Porém, se as redes sociais são caracterizadas por esta variedade, os jornais impressos de grande tiragem, caminham em direção contrária. É o surgimento do Pensamento monolítico. Uma excrescência.

Em alguns países, os jornais têm por hábito defender seus pontos de vista, posições políticas de forma direta. Aqui no Brasil, ainda sob o manto de uma pretensa neutralidade e isenção, os ditos “jornalões” evitam expor suas opiniões ou a opinião do dono. Em nome, da já referida isenção, estes jornais ofereceriam espaço às opiniões divergentes entre si.

Teríamos, neste caso, a famosa “pluralidade de ideias”.

No campo da teoria é muito bonito. Porém, o que vemos é cada vez mais nos jornais é a expressão de uma única forma de pensamento, de opinião. Seria uma reedição do que ficou conhecido como “Pensamento Único”, conceito celebrizado por Ignácio Ramonet?

O historiador Enrique Padrós nos ensina que “uma característica dos ideólogos do Pensamento Único é a desqualificação do contraditório através de uma retórica profundamente medíocre, sustentada pelo apoio sistemático dos meios de comunicação.” (PADRÓS, 1999).

Nestes meios de comunicação, temos a expressão monolítica de um só ponto de vista hegemônico, como se vê, sem espaço para o contraditório e quando este aparece é desqualificado.

Quando os jornais buscam uma pretensa pluralidade, o que se nota é uma falsa pluralidade. Falsa porque, além da quantidade mais expressiva de textos de um campo ideológico do que outro, soma-se a isso a disposição nas páginas do jornal, bem como a frequência com que os mais variados colunistas do campo hegemônico escrevem.

Este texto, aqui foi apenas um preâmbulo para comentar a saída do jornalista Moisés Mendes de ZH. Com sua ausência, o que percebe-se é justamente o pensamento monolítico de representantes de um só campo ideológico. Todos aqueles articulistas têm, como característica, a crítica à esquerda, pela direita. E como se já não bastassem os habituais colunistas, verificou-se a entrada de outros nomes que só reforçam a lógica, presente nas páginas do referido diário, do pensamento ideológico monolítico.

Paulo Henrique Amorim, pergunta em recente vídeo, em seu site Conversa Afiada: “Como se chama isso? Massacre!”

Até a próxima,
Ulisses B. dos Santos.

@prof_colorado

Comentários

  1. Professor Ulisses!
    Perfeita sua colocação. Incansavelmente tentei, nao com tanto talento, colocar a posição perfeita, correta como colocastes. Obrigado por ter sido a extensão da minha opinião e visão.
    Para muitos não basta estudar, viajar, conhecer..... persistem na obscuridade da ignorância! Muito Obrigado.

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