Pular para o conteúdo principal

A REALIDADE DO MAGISTÉRIO GAÚCHO

Na edição de sexta-feira (ZH-05/03/2010), li dois artigos a respeito do Magistério Gaúcho e, depois de concluir a leitura de ambos, resolvi que,como professor, não deveria me omitir e aqui escrevo a minha resposta. Ambos os textos primavam pela concordância de argumentos e caracterizavam-se por serem complementares. Portanto, acredito que basta-me um texto para responde-los. Os signatários dos artigos comandaram a Pasta da Secretaria da Educação no atual governo. Em seu texto, o atual titular da pasta, comenta a discussão a respeito da falta de professores, considera o atual modelo de gestão escolar ultrapassado, acredita que “dar condições para o exercício da profissão” passa por um comprometimento de toda a sociedade e afirma ter autorização para a contratação emergencial de 13 mil docentes e ao concluir seu texto deixa claro que “não temos propriamente a falta de professores.”

Caro Secretário: temos sim não só falta de professores, como uma falta CRÔNICA de professores. A partir do momento em que professores com determinada formação acadêmica obrigam-se –pela contingência- a lecionar outras disciplinas, como exemplo, professor com formação em Matemática, leciona também Ciências; aquele com formação em História leciona também disciplinas como Sociologia. Os exemplos são vários, mas deixo apenas estes dois. Secretário, o ideal não seria cada um lecionar a disciplina na qual tem a formação? Afinal, fiz meu curso superior querendo lecionar aquela disciplina e não “as disciplinas afins”.

Secretário, a respeito das condições de trabalho, é importante salientar que estas estão vinculadas diretamente a questão citada acima e também ao salário pago, bem como os benefícios adquiridos no transcurso da carreira. É inaceitável que o Estado pague um valor IRRISÓRIO a um professor que tenha feito Pós-graduação. Aos que não sabem, fica o exemplo: Um professor que conclua um curso de Pós-Graduação, tem dois períodos no ano todo para solicitar a alteração de nível, decorrente desta formação. Depois que entra com o processo, leva em média SEIS MESES até receber este valor a mais no salário-básico, e ESTE VALOR NÃO RETROAGE, ou seja, recebe-se a partir dos seis meses, sem contar aqueles seis meses de processo. Investe-se um valor bastante razoável na formação, para se receber algo em torno de SESSENTA REAIS. Secretário: Porque a Secretaria da Educação não promove um concurso público para nomeação imediata de professores? Porque a única função pública, em que o nomeado ou contratado, PERMANECE SEIS LONGOS MESES sem receber salário é o Magistério? Imagine-se você, leitor, ficar SEIS MESES sem receber salário, tendo que trabalhar. Porque a imprensa não divulga isso? Secretário, acabe com esse martírio, faça com que os nomeados ou contratados, recebam seus salários a partir do mês seguinte a posse. O Senhor tem essa prerrogativa. Afinal, o Senhor é a autoridade máxima na Educação do RS.

Secretário, em dado momento de seu artigo, o senhor escreve “propor um debate aberto sobre um novo modelo de ensino público.” Debate aberto, Secretário? Quando? Com quem? Garanto que meus representantes sindicais aceitariam de bom grado o seu convite.

O texto, que completava a página do dia 05 de Março, era assinado pela ex-Secretária da Educação do RS e tecerei meu comentário a seu respeito. O tema central daquele artigo era a remuneração do Magistério Estadual e em dado momento, a ex-secretária comenta que em março de 2010 será paga a última parcela da Lei Britto. Caríssima, ex-Secretária, é esta mesma Lei Britto, que o Estado é obrigado pela Justiça a pagar em uma só parcela e que, de tanto o Estado perder, já é considerado “coisa julgada”? Diga a população que existe a obrigação do Estado de realizar este pagamento em uma só parcela! Por isso, que a sua frase “os reajustes dos vencimentos continuarão sendo reduzidos, como foram as parcelas da lei Britto” é uma falácia. Primeiro, uma coisa não teria nada a ver com a outra; segundo, que a Justiça obriga o governo a pagar em uma só parcela a Lei Britto e seus atrasados.

Secretária, se somos, de acordo com seus números, “82,40% do magistério com nível superior”, é porque somos teimosos e estamos sempre nos atualizando, apesar da falta de condições de trabalho –salário, entre elas- em nosso dia-a-dia. A expressão “política pública” não possui nenhum tipo de significa prático. Pelo menos, para quem comandou ou comanda a secretária da educação.

Secretária: a respeito da Lei Federal do Piso, se a senhora não sabe, ou não lembra, estou aqui para lembra-la: de acordo com o texto da Lei, se o Estado em questão provar que não tem condições de pagar o Piso Nacional do Magistério, o Governo Federal fará a complementação com o envio do restante. Claro que para que isso ocorra, é necessário que o Estado comunique o Governo Federal. Neste trecho expliquei para a Senhora acerca da tal “viabilidade financeira” da Lei do Piso Nacional.

Secretária: aquele trecho em que a senhora comenta que “o melhor caminho é o diálogo e a negociação entre professores,governo e sociedade...”, deixa uma pergunta: Quem, ou o que, impediu a senhora de colocar isso em prática durante seus 3 anos frente à pasta?


Acredito que estas poucas linhas irão ajudar no debate pela melhoria na Educação pública gaúcha.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As Torcidas de Futebol e a Cultura do Ódio!

Sou de um tempo antigo. Sou de um tempo em que camisas de times de futebol eram desejo de consumo de qualquer jovem, porém só eram vistas nos campos dos estádios de futebol. Estas camisetas não eram vendidas e lembro que a primeira camiseta que tive foi feita pela minha mãe: ela comprou o emblema e costurou em uma camiseta toda vermelha. Faz uns 10 ou 15 anos que começou-se a popularizar estas camisetas e, o que era pra dar um colorido diferente e bonito na cidade, transformou-se, em alguns casos, em combustível para a violência. Hoje, lamentavelmente, vemos cenas de violência cada vez mais diária e feitas por pessoas cada vez mais jovens. Temos situações que vão desde o uso de expressões "pano de chão", até expressões chulas para se referir a alguma coisa do adversário. Eu vou a jogos de futebol desde que tinha 10 anos e sempre tive uma relação tranquila com o futebol. Fazia e faço o que qualquer torcedor faz: torço, seco, vibro, choro...mas claro tudo dentro da possível c

A que pontos chegamos?

Tentem-se imaginar sendo achincalhado, humilhado diariamente nos mais diversos meios de comunicação - rádios, tvs, jornais, bem como redes sociais. Como diria Paulo Henrique Amorim, um verdadeiro "Massacre!". Como se tudo isso não bastasse, ver a intimidade de sua casa ser invadida e detalhes de sua vida serem expostos, pela mesma mídia, pelos mesmos meios de comunicação... Goebbels não faria melhor. Nunca sua frase "Uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade." foi tão atual. Imagine-se sofrendo uma tortura psicológica diária, carregar um fardo, um peso - aquilo que antes era orgulho pessoal, orgulho de vida, história de vida - a tortura diária transformou em fardo. Possivelmente, ter receio de sair na rua, de ir ao shopping pelo simples medo de ser ofendida como inúmeros foram, em restaurantes, hospitais e outros lugares. Este tipo de gente que deu-se ao trabalho de ofende-la às portas do hospital, sem sequer respeitar a situação delicada que p

Texto de Apoio 06 (turma 203)

 A Conquista da América (continuação) Olá! Vamos continuar vendo o processo de dominação e conquista do chamado “Novo Mundo” que viria a se chamar América, iniciado no texto de apoio anterior. Se quiser (re)ler, clique aqui . Podemos considerar que, para efeito de estudo, foram três os casos de conquista européia no Novo Mundo: a chamada América Ibérica (Portugal e Espanha) e a América Inglesa. Sempre importante lembrar que estas Coroas européias são Absolutistas e Mercantilistas. Se você não lembra dos principais conceitos, clique aqui . América Espanhola O processo de conquista e dominação da parte espanhola do Novo Mundo divide-se em dois períodos: Período das Conquistas e Período da Colonização. a) Período das Conquistas : do descobrimento até 1530 (séc.XVI). O acontecimento mais relevante dessa fase foi a destruição dos grandes impérios ameríndios. também chamados de pré-colombianos(Maia, Inca e Asteca). Além da dominação sobre outros povos como os toltemas, olmecas e etc… b) Per