Nosso amigo é daqueles caras que estuda à noite e, logo depois, vai para o açougue do supermercado dividir suas preocupações entre os pensamentos sobre a namorada e o cutelo que manuseia para deixar os cortes do dia seguinte. Ele é um cara que faz um trabalho que ninguém vê. “Que fedor! Deixam o lixo assim, fedendo!”, nosso amigo resolve colocar aquele saco de lixo, na lixeira no final da viela. “Que é isso?”, olha algo assustador caindo no chão: um braço, cortado na altura do cotovelo. “Tá loco!”,o coração acelerado, pega o celular e liga para o polícia contando o ocorrido, “Espere ai nesta rua, pois precisamos falar contigo.”, diz o policial do outro lado da linha. Quinze minutos depois chega uma viatura policial, nosso amigo conversa com policial e enquanto conta o ocorrido, outro policial encontra pedaços daquele infeliz em outros sacos.
Quanto ao sono, bem, o sono do cansaço já tinha ido embora, agora a adrenalina tomara conta da situação e nosso amigo já nem pensava mais em dormir. “Temos que ir até a delegacia para tomar teu depoimento.”, “Mas preciso avisar em casa”, “Liga da delegacia avisando a tua família.”, “Mas eu moro aqui perto!”, “Vamos ali então!”.
Ao abrir o portão de casa, Rox – um cachorro que faz festa pra qualquer um, chega correndo e, obviamente, fazendo festa – começa a latir para o dono, “Vem cá, Rox!” e sua mãe abre a porta daquela casa humilde e dá um “Bom dia, meu filho!”, num tom visivelmente preocupado. “O que aconteceu, filho?”, “Nada, minha senhora!”, responde o policial. “Nada mãe, mas eu vou precisar ir até a delegacia.”, “Nada? E vai precisar ir na Delegacia? Imagina se tivesse acontecido alguma coisa?”, pergunta a mãe atônita. “Minha senhora, seu filho achou algo que pode ser prova de assassinato e precisamos levá-lo à delegacia para tomar seu depoimento. A senhora pode ficar tranqüila.”, “Mas ele tem 17 anos. O senhor me espera que eu vou com vocês.”, “Tu tens 17?”, “Sim!”, “E vinha de onde?”, “Do meu estágio.”, “Estágio? E qual teu horário de trabalho? Sendo menor, tu devias trabalhar durante a tarde ou pela manhã, nunca de madrugada.”, “O senhor sabe como é. As empresas te contratam e depois que tu tá há um tempo trabalhando ‘convidam’ para esse horário que é ilegal mas, ao mesmo tempo, tu não vais querer perder a grana. Então, tu acaba topando. E aquele período que seria ‘por um tempo’, fica por muito tempo.”, relata, de forma cruel e verdadeira, nosso jovem trabalhador. “Estou pronta. Vamos?”, a mãe pergunta ao entrar na sala. “Vamos até a viatura. Não quero estacioná-la aqui na frente da casa de vocês.” diz o policial.
Comentários
Postar um comentário
Aguardo seu comentário/crítica/elogio.