Meus poucos leitores (uns quinze ou vinte, no máximo?): eu sei a que mundo pertenço. O mundo das pessoas assalariadas que, normalmente usam transporte coletivo, lutam para que seu salário do mês dure até a chegada do próximo, programam viagens e pagam em até 10x. Mas, tudo bem, essa é a minha vida e esse é o meu mundo. Por isso que, às vezes, fico tentado a investigar e tentar descobrir como vivem, e o que pensam, pessoas que habitam um outro mundo que não o meu.
Todos nós crescemos lendo/ouvindo frases do tipo "A justiça no Brasil é lenta" e, sabemos também, que os processos, nas mais variadas instâncias, seguem empilhando-se. Temos certos tipos de ações que demoram, demoram, demoram, a ponto de acharmos que nossos filhos,ou os filhos deles, verão o fim daquele processo.
E realmente, nosso senhores togados, dão provas atrás de provas que vivem num mundinho só deles. Nem chamo de mundo paralelo, pois não vejo paralelo ao que a gente vê, quando vê, amostras do mundinho deles. Tentem assistir a uma sessão de um Tribunal, como o STF, ou algo parecido, em um destes canais de teve a cabo... tentem assistir por, 5 minutos (este é o meu recorde pessoal), sem que o sono venha. Eu não consigo.
E, num país em que, como eu escrevi lá em cima "a justiça é morosa", a gente espera que os nossos nobres senhores de toga, tenham interesse em agilizar os processos mas, pelo visto, não é o que parece.
A mais nova preocupação de alguns destes senhores é a respeito da colocação ou não de símbolos religiosos, leia-se, católicos, nas repartições. De um lado, uma ação que pede que retirem-se tais símbolos. Agora, alguns juizes, conseguem com que sejam devolvidos tais símbolos às suas paredes.
Ora, meus caros, se o Estado é mesmo laico, como eu imaginava que era, ou não coloca-se nenhum símbolo religioso, ou colocam-se todos. Dai, haja parede.Agora, surgem até entidades como Associação de Juristas Católicos defendendo que devem ter os crucifixos de volta às paredes dos tribunais, sob a alegação que a "maioria do povo brasileiro é católica". É mesmo? Tem certeza disso?
Convido os senhores juristas a visitarem os terreiros de religiões africanas e também os cultos de igrejas evangélicas e ficarão surpresos com o que virão. Será que estes senhores não sabem que o povo brasileiro mudou, ou revelou, um novo perfil religioso? E os ateus, ficam como nesta história?
Pelo visto, não ficam...
Enquanto estes senhores, preocupam-se com algo com este nível de relevância, os processos seguem avolumando-se em seus gabinetes.
Era isso,
Uli
ResponderExcluira questão é um pouco mais complexa.
Apesar de teres razão na tua insurgência, existem fatores alheios ao conhecimento leigo.
A nossa própria Constituição Federal prevê, no preâmbulo: "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, SOB A PROTEÇÃO DE DEUS, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil."
Há, ainda, que se observar a questão dos costumes. As instituições jurídicas, por anos a fio traziam um crucifixo na parede. Por vezes, painéis artísticos e obras de arte que adornam tribunais trazem algum simbolismo religioso. Te pergunto: convém jogar tudo fora apenas pq contém imagens associadas a esta ou aquela religião?
Não seria uma miopia exagerada exigir que o estado laico renuncie a símbolos, sem, contudo, exigir da própria população que tenha pensamentos livres da influência ideológica das Igrejas (das mais diversas religiões)?
Manter uma cruz na sala de julgamentos em nada atrapalha a laicidade do Estado-Juiz. Atrapalha, isso sim, leis motivadas por posicionamentos político-religiosos, que afetam a vida de todos (pensou aborto?)
Vale lembrar que o mesmo STF. agora criticado, foi quem reconheceu o direito às uniões homoafetivas. É o Judiciário quem tem preenchido o vácuo legislativo (conveniente às igrejas) permitindo adoções por casais homossexuais e avançando o Direito Pátrio em outras questões.
Retirar as cruzes das paredes é bobagem. Isso porque existe a confusão entre ser laico, ser ateu e ser contra as religiões.
Abraços,
Pedro Henrique