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De quando conheci José Saramago.

1997. Mais precisamente naquele 10 de abril, em meio a um seminário sobre História e Literatura Brasil/Portugal, ocorrido na UFRGS, tive o prazer de conhecer José Saramago. Naquela época, eu era estagiário na Secretaria Municipal da  Cultura em um setor - que acredito não exista mais - em que, sem falsa modéstia, fervilhavam cultura, debate e conhecimento. Lembro que naquele ano eram lançados em bancas de revistas clássicos da lingua portuguesa a um preço módico, algo em torno de 10 reais. E 10 reais por um livro, até um estagiário da prefeitura podia pagar. Pois, compramos (eu e mais dois ou três colegas) um clássico de José Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e, ao mesmo tempo que líamos, fazíamos debates sobre o trecho lido.
Um dia, alguém chegou com a notícia que José Saramago viria à cidade para o já referido seminário e aquilo já nos fez pensar em entrevistá-lo. Uso esta expressão "entrevistá-lo", porque fazíamos parte de um jornal alternativo em que se debatia História e Cultura.
 O jornal chamava-se Folha da História...mas isso é motivo para outro artigo.
No dia em que José Saramago esteve em Porto Alegre para o Seminário, no referido 10 de abril, eu levei os  livros que tinha, quatro ao todo. Um amigo perguntou: "Tu vais levar todos? leva só um.", "Só? Por que? Eu não sei quando vou encontra-lo de novo...e se vou reencontra-lo..." Depois da minha resposta, aquele amigo que tinha uns oito títulos de Saramago e havia levado apenas um, silenciou.
Ao chegarmos na UFRGS, encontramos um Saramago caminhando quase sozinho, acompanhado apenas de uma pessoa. Chegamos para conversar com ele e ele foi extremamente solícito, pegou nossos livros, fazia  seus autógrafos, enquanto conversávamos...Em determinado momento, perguntei:" O Sr. poderia me responder onde eu encontro o 'Livro dos Conselhos' que o Sr. usa como citação de abertura?", a resposta que ouvi em seguida nunca mais esqueci e não poderia ser desconcertante: "O livro dos Conselhos? ele não existe.",seguiu-se um sorriso, digamos, maroto."Sempre que escrevo meus livros, penso em uma frase para abertura e para não parecer tão presunçoso, criei um "livro" para que não parecesse minha a frase."


Seguiu-se desta explicação, uma despedida afetuosa e uma lembrança para sempre.




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