Apesar
de ter formação – Licenciatura e Bacharelado – em História, sempre me foi
sugerido lecionar disciplinas afins como Ensino Religioso, Sociologia e
Filosofia. Em Ensino Religioso procurava trabalhar o reconhecimento da religião
do outro, propondo pesquisa e apresentação oral para -quem sabe?- destruir
possíveis sementes de preconceito.
Se
consegui? meus alunos das turmas de 2004 em diante, hoje pais e mães, tem a
resposta. Este tipo de aula serve à discussão permanente de questões do
cotidiano.
O problema vem agora.
Vai
algum tempo, surgiu um movimento chamado “Escola sem partido”, que diz lutar
contra o que chamam “doutrinação”, “partidarização”,“ideologia”e outras
classificações despropositadas.
Qual
o perigo deste movimento? A supressão da liberdade de pensamento. Quando isto ocorre
no ambiente escolar adquire contornos de crueldade. Um lugar criado e
fomentador de debate não pode, sob o disfarce da pluralidade, reprimir
opiniões. A liberdade de expressão, tanto do professor quanto do aluno, deve
ser respeitada e preservada em sua totalidade.
O
projeto “Escola sem Partido”, que inspira o PL 190/2015, em tramitação na
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, tem como objetivo vigiar os
professores, especialmente aqueles da área de Humanas, que fomentam o debate.
Aspectos sociais como discussões sobre gênero ou mesmo a teoria da evolução de
Darwin passariam a ser proibidos. Seria a criação de index?
O
autor do PL 190/2015, expõe toda sua ideologia – crime de que acusa os
professores – em seu projeto pretensamente preocupado com a educação. Ter
ideologia não é errado, deputado! Muito pelo contrário. Todos temos, a questão
é que alguns não reconhecem como tal e outros não sabem que a tem. A ideologia
de alguém ou de um grupo social é notada no vocabulário, no discurso, na
postura frente às questões sociais mais prementes. Em um arrazoado, que lembra
muito o discurso anticomunista da Guerra Fria, o nobre deputado caracteriza um
tipo de aluno que não existe mais e uma visão de educação ultrapassada. Nos
dias de hoje, os alunos debatem questões atuais com tanta ou mais leitura que
os professores. Então percebe-se que a passividade estudantil, de que trata o PL 190/2015, inexiste.
Nobre
deputado, os alunos lutam por seus direitos, ou o senhor não ficou orgulhoso
com os movimentos de rua de 2013 em diante? Os estudantes de ensino médio
participaram daqueles movimentos, deputado. O tipo de educação de que trata o
PL 190/2015 foi muito bem caracterizada por Paulo Freire, em seu clássico
Pedagogia da Autonomia, como “Educação Bancária”. Aquela em que o aluno é uma
folha em branco e o professor traz o saber e o aluno, passivo que é, não
questionando nada apenas recebe “o saber” pronto sem discussão.
Sua
visão de educação é ultrapassada, deputado. Suas leituras são ultrapassadas.
Nobre
deputado, uma sugestão: não subestime nossos alunos.
No
atual cotidiano escolar, com todos seus problemas, aprendemos e ensinamos
todos. Todos os dias a todo o momento. Afinal, nos ensinava Paulo Freire, a
educação é uma via de mão dupla.
Abraços fraternos,
Ulisses B. dos Santos
E isso ai colega, a maior prova de a escola tem e deve contribuir na construção do conhecimento são as ocupações que estão ocorrendo em instituições de ensino em todo o País!
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirPL 190/15 é um dos projetos de lei mais absurdos dos últimos tempos. Política deve sim ser discutida na sala de aula, política partidária penso que não, mas, a partir do momento, em que o País vive um dos momentos mais emblemáticos durante toda a sua "democracia", acho sim que o Professor tem TOTAL liberdade de expôr a sua opinião. O debate de opiniões sempre é bem vindo. E por fim, aqueles que assinam em secreto são os mesmos que na sala de aula são mais uns pesos e analfabetos políticos por aí. Passar bem e FORA TEMER.
ResponderExcluir